terça-feira, 16 de agosto de 2011

Amem Uns Aos Outros

Texto Base: João 15:9-17

Introdução A minha criação de garoto protestante se deu na região sul do Brasil, predominantemente católica, e eu freqüentei uma escola católica particular. No Ensino Médio, todos os alunos Protestantes tinham aula de Educação Religiosa com o pastor luterano. Eram classes sobre assuntos como a criação e a queda, os sacramentos, céu e inferno, etc... Mas essas freiras sabiam como fazer seu serviço bem feito e inventaram outra cadeira semanal, obrigatória para todos os alunos: era chamada “Formação Moral”. Nas aulas de Formação Moral, nós discutimos os problemas clássicos do ensino moral católico: valores e hierarquia de valores, o significado da vida, “felicidade é possível?”, as virtudes morais, a unidade de virtudes, etc... Nós discutimos muito sobre sexo. E discutimos uma grande variedade de coisas relacionadas ao sexo. Discutimos a diferença entre amor e paixão, por exemplo. Aprendemos que amor está relacionado a um relacionamento profundo e de compromisso, e se distingue de admiração ou desejo, não importa sua intensidade. Os alunos daquela escola aprenderam a nunca dizer “eu te amo” tão rapidamente... Fomos ensinados de maneira plena que a vontade de estar com alguém, o sentimento que você tem de que irá morrer se não estiver junto, é o trabalho de glândulas endócrinas. Tudo parte da criação perfeita de Deus, mas que não deve ser confundido com amor. Então, o que é o amor?

I – Amor é o Fruto do Espírito Em sua carta aos Efésios, Paulo fala sobre amor como o fruto do Espírito. Isso é o que ele escreveu: “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio”. Deixe-me sublinhar um aparente erro gramatical na frase de Paulo para mostrar algo. Perceba que o apóstolo usa o verbo ser no singular “o fruto do espírito é...” e então começa a fazer uma lista de nove coisas diferentes. Eu costumava pensar que ele deveria ter dito “os frutos do espírito são...” e então fazer a lista. Mas Paulo sabia o que ele estava dizendo e disse precisamente o que ele queria dizer. Ele estava se dirigindo a um debate que vem dos gregos antigos. Seu debate era sobre a natureza da virtude e o que alguns deles chamavam de “a unidade da virtude”. Este debate antigo é sobre se uma pessoa pode ser virtuosa, ainda que de maneira imperfeita, ou se a virtude demanda dedicação total. De um lado do debate estão aqueles que dizem que ninguém é perfeito e, portanto, precisamos crescer em virtude gradualmente, sempre cientes de que decaímos do ideal. Do outro lado estão aqueles que argumentam que todas nossas boas qualidades tornam-se vícios se nós permitimos que um vício os enfraqueça. Um exemplo contemporâneo pode ser colocado da seguinte maneira: Uma pessoa muito santa, talvez, um ministro, é amado por muitos por sua bondade, gentileza, dedicação à oração e à caridade, etc, etc..., Esta pessoa é uma pessoa muito atraente por todas essas virtudes. Mas esta pessoa usa esses dons para atrair e seduzir crianças. Suas virtudes são colocadas a serviço de seu vício. Ele é virtuoso ou vicioso? Jesus mesmo avisou: “se a luz que está em ti se torna trevas, quão grande trevas serão”. Então, quando o Apóstolo Paulo diz que o fruto do Espírito é essa lista de coisas que começam com o amor, ele está dizendo que amor é a primeira característica do Espírito Santo e que as outras características vêm com ele. Outra percepção de teologia de Paulo é que o amor é algo vivo. Ele chama o amor de fruto do Espírito. O que é um fruto? Um fruto é o resultado natural de ser uma árvore. A árvore não precisa fazer muito esforço para produzir um fruto. E pelo seu fruto conhecemos a natureza da árvore. E Paulo diz que o fruto do Espírito em nós é o amor.

II – Amor é um mandamento Mas o amor também é um mandamento. No evangelho de hoje Jesus se dirige a seus discípulos na voz imperativa: amem uns aos outros. Por que Jesus teria de dizer que devemos amar uns aos outros se amor é o resultado do Espírito Santo em nós? Porque a capacidade de amar gerada pelo Espírito em nós não apaga nossa capacidade de fazer escolhas e, eventualmente, somos inclinados a não amar. O apóstolo percorre grandes distâncias para assegurar que nós entendemos que amor é muito mais que um sentimento aconchegante para com alguns poucos escolhidos. Em sua primeira carta aos Coríntios ele detalha o amor de maneiras que não nos deixam dúvidas; O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece. Se isso é o que queremos dizer por amor, até mesmo o mais santo entre nós deve reconhecer que todos nós carecemos desse ideal. Amor é um mandamento porque cobre todas as exigências dos mandamentos. Os Evangelhos reafirmam a tradição judaica que toda a Lei e os Profetas resumem-se no mandamento de “amar a Deus com todo teu coração, toda tua força e todo teu entendimento e amar o próximo como a ti mesmo”. Agora, quando lemos toda a Lei e os Profetas, torna-se muito claro que eles não estão se referindo somente ao nosso relacionamento pessoal com Deus e um para com o outro no nível individual; eles referem-se também ao nosso relacionamento como comunidades e sociedades intencionadas a expressar o amor de Deus em estruturas que governam nossas vidas como um todo. Eles estão se referindo ao bem-estar da cidade, ao bem-estar da nação, e muitos deles até mesmo ao bem-estar das nações como uma expressão das preocupações de Deus. De um modo muito concreto, então, o mandamento do amor inclui o chamado de se importar com o menor, o perdido e o último. Isso implica cuidado com o meio-ambiente, a criação de Deus como o jardim onde vivemos. E isso inclui o trabalho para construir mais estruturas humanas onde pessoas podem crescer e tornar-se tudo que Deus pretende que elas sejam. É por isso que a Episcopal City Mission foi criada ao levar os Episcopais a servir nossas comunidades como expressão da graça de Deus.

III- Amor é Vida: eros, filéo, AGAPE (eros v. thanathos): Então, é o amor uma exigência espantosa cheia de obrigações e expectativas que ninguém pode preencher? Absolutamente não. Exatamente o oposto Você deve ter lido ou ouvido comentários sobre o amor Cristão baseado na interpretação de várias palavras gregas que se referem aos vários aspectos daquilo que podemos chamar de amor. Antes eu mencionei aquelas palavras, deixe-me avisá-lo que eu prefiro a palavra portuguesa amor, ou qualquer outro vocábulo contemporâneo que abranja tudo que os gregos significavam por seu extenso vocabulário pela simples razão que, na minha opinião, amor é complexo, não importa que tipo de relacionamento nós estamos descrevendo e em todos tipos de relacionamento nós achamos um certo grau desses conceitos gregos. Então, tendo dito isso, deixe-me invocar a língua grega nesta reflexão por um momento. Você já ouviu as distinções entre eros, filéo e ágape; eros referindo-se ao amor romântico, filéo (e storge) referindo-se ao amor pelo próximo e amigos, e ágape, referindo-se ao divino amor ou à mais altruística, doadora expressão de amor. Ágape é geralmente usado para expressar o amor oferecido aqueles que não amam de maneira recíproca, ou são o tipo mais difícil de amar. Filéo e storge referem-se ao amor de parentesco, amor de pessoas que pertencem uma a outra por sangue ou por outra afinidade. E eros refere-se ao amor romântico, erótico. Isso significa que não há não há elemento de sacrifício próprio no amor filéo? Ou que não há prazer no amor ágape? Não. Alguns irão argumentar que até mesmo o trabalho de Madre Teresa trouxe a ela – e aqueles que fazem trabalho similar – um nível de prazer intenso na alegria de ajudar os outros. Ao mesmo tempo, adultos sabem que amor erótico nem sempre vem sem dor intensa. Eros, na verdade é uma boa tradução de amor. Eros é a referência ao instinto de viver, para todas as coisas que nos fazem caminhar retos (como homos erectus), pulando de alegria, com a ponta de nossos pés. E seja quando for que você ame –seja alguém que corresponda, ou uma pessoa necessitada na rua – você está invocando a alegria e a dor de eros e ágape, a doação da vida, que resiste thanathos, que persiste na caridade, que busca a jutiça, que é pacificador, doador de misericórdia, recebedor da graça, a auto-reveladora presença de Cristo entre nós.

Conclusões: movidos por amor, nós cumprimos a Lei de Cristo: - em nossas relacionamentos pessoais, - em nossos relacionamentos com outros em nossa comunidade, e - em nossos relacionamentos mais abrangentes como membros da família humana. Que o amor de Deus nos capacite a amar.

Christ Church, Andover - Em 18 de maio de 2009.

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